"A COISA"
Artigo publicado no jornal "Notícias da Amadora" por ocasião do seu 50º aniversário. Encontrei há tempos os resultados de um trabalho elaborado por uma importante empresa de estudos de mercado, segundo o qual mais de 47% dos portugueses lêem habitualmente jornais regionais. O número é em si impressionante: quase metade dos cidadãos deste país lêem, ou pelo menos folheiam, um dos cerca de 900 títulos da imprensa local ou regional que se publicam em Portugal. Mas o que mais surpreende naquele estudo é a revelação de que a audiência total da imprensa regional ultrapassa, largamente, o número de leitores dos jornais nacionais, nestes se incluindo todos os grandes diários, semanários e até a imprensa desportiva ou cor-de-rosa. Os números divulgados no estudo evidenciam a força que a imprensa regional continua a ter no nosso país, ainda que a sua importância seja muito diferenciada de região para região. Em todo o caso, a comunicação social de âmbito regional desempenha um papel central na informação das populações e na formação de opinião, particularmente no que diz respeito a assuntos de natureza local, que dificilmente têm espaço num jornal nacional ou, muito menos, num noticiário televisivo. Talvez por isso, alguns dos autarcas deste país desenvolveram uma relação muito particular com os jornais que se publicam nas suas terras. Casos há em que o jornal local é premiado com generosos anúncios da Câmara Municipal ou das Juntas de Freguesia, por vezes complementados com publicidade paga pelos empresários do regime. Um balão de oxigénio que lhes permite sobreviver, numa conjuntura que é reconhecidamente difícil. Já os mais mal comportados são submetidos à asfixia e ao abandono, na esperança de que assim sejam forçados a encerrar as portas. De facto, um pouco por todo o país o fluxo publicitário proveniente dos paços do concelho é, por norma, inversamente proporcional ao pluralismo e à liberdade de expressão. Para um certo tipo de autarcas, um jornal livre é coisa perigosa e sem préstimo, enquanto um jornal que dê voz às oposições é, obviamente, para fechar, sem apelo nem agravo. Infelizmente, esta visão boçal e doentia do regime democrático vai fazendo o seu caminho, num país onde a mexicanização da vida política local parece ser incompatível com uma imprensa verdadeiramente livre. Quanto à Amadora, o Partido Socialista não tem que se preocupar, porque a comunicação social local tem vindo, aos poucos, a ser varrida do mapa. Talvez para tentar tirar partido do espaço deixado pelo Notícias da Amadora, pelo Grande Amadora ou pela Rádio Mais, surgiu recentemente no concelho uma COISA com nome de televisão e divulgação via internet. A ideia parecia ser interessante, mas cedo se percebeu ao que aquilo vinha. A COISA tem o apoio da Câmara Municipal e de cinco Juntas de Freguesia geridas pelo Partido Socialista. Desconhece-se em que termos a COISA é apoiada, mas a verdade é que o sítio na internet exibe orgulhosamente um extenso friso de apoios institucionais, que cedo levantaram suspeitas. A confirmação veio pouco depois: a linha editorial da COISA não deixa margem para equívocos. A título de exemplo, no aniversário do município, porventura o momento político mais importante do ano na cidade, a COISA fez uma reportagem em que dedicou quatro minutos ao Partido Socialista e quatro segundos à oposição. Uma cobertura “à angolana”. E se eu falo da COISA, não é por ela ser relevante sob o ponto de vista jornalístico. Em boa verdade, uma parte do que ali se faz não é sequer jornalismo. O problema é que a COISA traduz uma certa forma de fazer política, incompatível com um país europeu do século XXI. Vem esta reflexão a propósito do 50º aniversário do Notícias da Amadora, efeméride que se comemora no dia 25 de Outubro de 2008. Com uma longa história de resistência que é unanimemente reconhecida, o Notícias da Amadora foi ao longo de muitos anos um interessante exemplo de tolerância e pluralismo, dando voz a diferentes correntes de opinião, mesmo àquelas que claramente divergiam da linha editorial traçada pela direcção do jornal. Há quem pense que a cidade ficou a ganhar com o interregno na publicação do Notícias da Amadora. Eu estou certo que sem o jornal todos ficámos a perder. É por isso tempo de pensar no regresso às bancas do Notícias da Amadora. João Castanheira Etiquetas: Amadora, C.M.A., Notícias Amadora, Socialismo, TVA
Presidente do CDS-PP Amadora
jcastanheira@netcabo.pt
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