POR JOÃO CRAVO
A imprensa regional é um manancial de extrema importância e utilidade para a investigação da História Local, sobretudo da última centúria. No caso da Amadora, está ainda por fazer um estudo sério desta imprensa, mas vários foram os jornais regionais que existiram, alguns de vida curta (caso do Venteira), outros que ainda existem, como por exemplo o Jornal da Amadora ou o Notícias da Amadora. Este último é um fenómeno singular, pela sua importância, até nacional, antes do 25 de Abril, a que não é alheio o seu penúltimo director, Orlando Gonçalves, personagem grada como anti-fascista e defensor do desenvolvimento da Amadora.
Em 1960, a Amadora festejava 25 anos de vila e tinhase tornado, mercê do êxodo rural crescente, do desenvolvimento industrial e da proximidade de Lisboa, na localidade mais populosa da linha de Sintra. Contudo, esse crescimento populacional provocou um grave desequilíbrio ao nível dos equipamentos, em especial dos escolares. As escolas primárias eram poucas e nada havia para os restantes níveis de ensino. Os jovens que quisessem (ou pudessem) continuar os seus estudos tinham que se deslocar para Lisboa, ou para Oeiras (na altura, sede do Concelho). É nesse ano que o NA inicia uma campanha (apoiada na opinião e na acção de muitos habitantes) para a construção de uma escola técnica e de um Liceu na Amadora. Frequentes vão ser os artigos, as entrevistas, os editoriais sobre esta temática, desde 1960 até 1972, ano em que finalmente é inaugurado o edifício do Liceu Nacional da Amadora.
A 8 de Outubro de 1960, um grupo de proprietários1 faz uma escritura de doação de terrenos à Câmara Municipal de Oeiras, para a construção de um Liceu na Reboleira. Um ano depois, a 7 de Outubro de 1961, a Câmara Municipal entrega esses terrenos ao Ministério da Educação Nacional. Todos esses factos são acompanhados pelo Jornal, com notas de vária ordem, dando também notícia do interesse que o assunto suscitava nos amadorenses, mormente apresentando várias cartas de leitores. A 6 de Outubro, um dia antes da Câmara Municipal entregar os terrenos ao Ministério, pede o Jornal, que ao menos se faça uma secção do Liceu de Oeiras, tal como já se tinha feito em Algés. O tempo passa, mas do Liceu nada. A 5 de Outubro de 1963, num artigo de primeira página, podia ler-se: “Abriu o novo ano lectivo do Ensino Secundário e o panorama na Amadora continua por resolver. A população escolar da nossa vila, que subirá já hoje a várias centenas de crianças e que mais subirá se contarmos com as localidades vizinhas, continua a ter que deslocar-se para Lisboa e Oeiras, com graves prejuízos para o seu aproveitamento e sérias complicações para a economia dos seus progenitores (…)”.
Em 1966, uma pequena vitória. Abre uma Escola Técnica feminina, secção da Escola Marquesa de Alorna, em barracões provisórios, em terrenos frente à Academia Militar. Só que, em 1968 a Escola Técnica transforma-se em Ciclo Preparatório, por força de uma reforma do ensino. É essa escola, que, mais tarde, passará a ter o nome de Escola Preparatória Roque Gameiro. Entretanto a questão do Liceu parecia arrastar-se. A 15 de Junho, dizia o Jornal, num discurso que parecia de desânimo: “(…) não mais se ouviu falar do Liceu, parecendo que o assunto foi esquecido (…)”. Mas, um mês depois, com grande destaque na primeira página, titulavase: “O ensino Liceal finalmente na Amadora, criada uma secção liceal sem dispêndio para o Ministério por despacho de 7 do corrente”!2 Vinha depois a grande notícia: “Toda a Amadora está de parabéns (…). Uma secção liceal (não ainda o Liceu com existência própria e instalações definitivas) irá ser uma realidade na nossa terra, passando a funcionar já a partir de Outubro (…)”. Na realidade a secção só vai começar a funcionar no dia 4 de Janeiro de 1969, com 187 alunos e 11 professores, sendo o vice-reitor Carlos Fernando Murteira. Primeiro foi necessário resolver- se a questão das instalações, o que se conseguiu com o empréstimo de um edifício, cedido pelo construtor J. Pimenta, na Rua Elias Garcia, 229, conhecido como Casa das Misses.
Entretanto, a 7 de Dezembro de 19683, é lançada a primeira pedra para o futuro edifício do Liceu (cujo terreno tinha sido cedido, recorde-se, em 1960). A 29 de Janeiro de 1972, um novo artigo do NA refere que o Liceu está praticamente concluído, havendo apenas que resolver questões ligadas aos esgotos. O artigo lembra ainda que deveria ser célere a transferência dos alunos para o novo edifício, visto que o empréstimo da Casa das Misses tinha sido por um ano, o que já estava amplamente ultrapassado. Finalmente, a 19 de Fevereiro, o Jornal informa que, aproveitando as férias do Carnaval, a transferência dos alunos já se tinha iniciado.
A 16 de Setembro de 1972, a secção liceal da Amadora é elevada à categoria de Liceu Nacional, autonomizando-se do Liceu de Oeiras4. Estava assim, definitivamente, fundado o primeiro grande estabelecimento de Ensino Secundário na Amadora, hoje a Escola Secundária com o nome da cidade.
1 Num artigo de 31 de Agosto de 1968, há a referência ao Capitão Leite Faria, como o principal doador de terrenos.
2 in NA, 31 de Agosto de 1968.
3 Curiosamente, no mesmo dia que a primeira pedra da futura piscina municipal da Reboleira.
4 Que me perdoem os leitores a nota pessoal, mas dois anos depois, em Outubro de 1974, entrou o autor destas linhas, como aluno no Liceu Nacional da
Amadora, onde cursou o ensino liceal e secundário.
Concordas com a nossa vis?
para a Amadora?
Vem connosco!
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